A demanda do mercado e as regulamentações atuais estão exigindo, cada vez mais, práticas de agricultura sustentável. Esta tendência surge a partir de considerações sobre a qualidade dos produtos, a saúde e a resiliência do solo, economia de água, emissões de carbono e descarte sustentável de resíduos. No entanto, migrar para essas práticas geramente resulta em safras menores e uma elevação nos preços pode não compensar.
Encontrar soluções que são ao mesmo tempo sustentáveis e produtivas é muito desafiador, especialmente se considerarmos o aumento da demanda por alimentos. O biochar pode ser a chave para superar esta questão, beneficiando agentes em todas as etapas da cadeia de valor da agricultura.
Na terra, o biochar age como uma esponja de carbono que retém água e nutrientes no nível das raízes das plantas. Ele também ajuda a equilibrar o pH do solo e ampliar sua aeração. Todos esses benefícios podem melhorar a saúde dos campos enquanto reduzem o uso de irrigação e de fertilizantes.
Para agricultores, isso significa maiores safras (aumento na ordem de 25%) e/ou menores custos (dependendo da safra ou da redução de fertilizantes), ampliando assim a sua renda.
Para o clima, reduzir a aplicação de fertilizantes sintéticos minimiza exponencialmente também as emissões de gases de efeito estufa da sua produção (CO2) e de seu uso (N2O). Isso é bastante interessante já que a agricultura contribui substancialmente para o aquecimento global e gera emissões muito difíceis de reduzir.
Em unidades de agro-processamento (como por exemplo no descascamento de café, cacau ou dendê ou na extração de cana de açúcar), são geradas grandes quantidades de resíduos. Nos trópicos, essa biomassa possui poucas formas de aproveitamento e é um problema logístico e às vezes ambiental para as empresas. O biochar pode ser uma forma fácil e financeiramente interessante de realizar este descarte.
Além disso, ter safras que utilizam o biochar pode ser muito interessante para essas empresas, já que a produção tende a aumentar com o tempo, assim como os volumes de processamento e a qualidade do produto final.
O biochar pode ainda ser uma forma de essas processadoras garantirem parcerias de longo prazo com agricultores, criando um modelo circular e vantajoso para ambos.
IIntermediários que estão comprando safras processadas para cooperativas ou unidades de processamento podem se beneficiar do biochar ao oferecer produtos de maior qualidade com uma pegada de carbono reduzida (remoção de carbono nos solos e emissões evitadas por menor uso de fertilizantes). Isso amplia o valor do produto que disponibilizam para seus compradores, principalmente para corporações de bens de grande consumo.
Todas as maiores empresas de bens de grande consumo assumiram compromissos de neutralidade de carbono cobrindo por inteiro sua cadeia de valor. A maioria de suas emissões vem de atividades de escopo 3; que abrangem práticas que elas não controlam diretamente, como a agricultura. Assim, reduzir essas emissões é muito difícil, já que são geradas em ações intrinsicamente necessárias para produção de grandes safras (como é o caso dos fertilizantes).
DA demanda por bens de grande consumo também está rapidamente migrando para produtos orgânicos e sustentáveis, que podem ser difíceis de disponibilizar em quantidade suficiente e por preços razoáveis, considerando as dificuldades dos agricultores de implementar essas práticas de forma lucrativa.
O biochar pode ser um catalizador para a resolução de ambas essas questões: